Preparo da mama na gestação: o que é, quando começar e como orientar de forma segura

Como, quando e para que preparar a mama?

O preparo da mama na gestação é um dos temas mais cercados de mitos no universo da amamentação. Com frequência, profissionais de saúde e gestantes ainda se deparam com condutas ultrapassadas ou baseadas em senso comum. No entanto, o preparo adequado vai muito além de práticas físicas e precisa considerar a fisiologia mamária, a saúde emocional da gestante, o acolhimento e o aconselhamento técnico.

Neste artigo, vamos aprofundar o conceito de preparo mamário, com base no conteúdo da especialista Lívia Polichiso, apresentado na live do Instituto Lactar Brasil. Você entenderá o que deve ser observado, o que deve ser evitado e como orientar de forma ética, empática e baseada em evidência.

Começa o preparo da mama na gestação?

O que é, de fato, preparar a mama na gestação?

Segundo Lívia Polichiso, preparar a mama significa entender e acompanhar o processo fisiológico da mamogênese – ou seja, as transformações hormonais e estruturais que a mama passa desde a vida intrauterina, durante cada ciclo menstrual, mas que acelera e passa a se diferenciar somente quando engravida, devido as altas taxas de hormônios, preparando-se naturalmente para a produção e ejeção de leite.

Não se trata de manipular ou estimular o mamilo, aplicar técnicas invasivas ou usar acessórios como conchas e bombas. Pelo contrário: o preparo adequado para uma boa história de amamentação parte de um bom pré natal, com controle adequado de peso, viabilidade fetal, taxas hormonais e da escuta ativa e uma orientação respeitosa a mulher.

Lactócitos na amamentação

Lactogênese: as fases da preparação natural da mama

A mama passa por transformações fisiológicas profundas durante a gestação. Essas mudanças fazem parte da lactogênese, que se divide em duas fases principais:

  • Lactogênese I: Inicia-se no começo da gestação, mas é só por volta da 16° semana que começa a produção de colostro. Os ductos e alvéolos aumentam em quantidade e volume.
  • Lactogênese II: Começa cerca de 30 a 40 horas após o parto, com a queda da progesterona e o aumento da prolactina. É quando o leite “desce”.

Entender essas fases permite à consultora avaliar se a mama está respondendo fisiologicamente como esperado, sem intervenções desnecessárias. Se a mama está mudando internamente, uma mudança externa também acontece como sinal de bom desenvolvimento glandular.

O papel da consultora: observar, acolher e orientar

Ao invés de indicar práticas invasivas, a consultora de amamentação deve atuar como facilitadora da percepção corporal. Isso significa acolher a mulher, orientá-la sobre o que está acontecendo com seu corpo e realizar uma anamnese completa.

Durante o atendimento, é importante observar:

  • Se há aumento de volume e vascularização das mamas;
  • Se há coloração mais escura das aréolas e papilas secundárias;
  • Se há produção de colostro, ainda que discreta;
  • Formato dos mamilos e elasticidade do tecido;
  • Histórico de cirurgias, alterações hormonais e outras condições clínicas.

Essas informações ajudam a traçar um plano de cuidado realista e livre de julgamentos. Além disso, reforçam a confiança da gestante no próprio corpo.

O que NÃO é preparo da mama?

Muitas condutas disseminadas historicamente não possuem respaldo científico. Entre as práticas contraindicadas, destacam-se:

  • Uso de buchas e escovas para “endurecer o mamilo”;
  • Banhos de sol forçados para “fortalecer a pele”;
  • Uso de conchas, coletores ou bombas durante a gravidez sem necessidade clínica;
  • Estímulo com seringa ou inversor em casos de mamilo plano ou invertido.

Essas práticas não apenas são ineficazes, como também podem prejudicar a estrutura mamária, causar dor, inibir a liberação hormonal e aumentar a ansiedade da gestante.

Mesmo que o mamilo seja assim

Quando indicar condutas específicas?

Embora o preparo padrão não envolva técnicas físicas, existem exceções. Em alguns casos, o uso de dispositivos pode ser considerado, mas somente no pós-parto e com orientação profissional adequada.

Por exemplo:

  • Em caso de fissuras ou feridas, avaliar com a especialista em lactação risco e benefícios de uso de apetrechos, como conchas. Em geral, elas são melhores substituídas por rosquinhas;
  • Extração manual, em caso de hipergalactia, quando há excesso de produção ou separação mãe-bebê;
  • Orientações específicas no caso de mamas desafiadoras, como uso de protuidores de mamilos momentaneamente e anterior à vinda do bebê ao seio.

No entanto, nada disso faz parte do preparo mamário durante a gestação. Portanto, é essencial individualizar cada caso e evitar protocolos generalistas.

Como orientar a gestante de forma ética?

A melhor orientação é baseada em informação de qualidade, vínculo e escuta ativa. A gestante precisa compreender como seu corpo funciona, quais sinais observar e quando procurar ajuda.

A consultora pode:

  • Falar sobre a biomecânica da amamentação e como posicionar o bebê;
  • Mostrar imagens de diferentes tipos de mamilo e explicar que todos podem amamentar;
  • Trabalhar o vínculo da mulher com seu corpo e sua história;
  • Desmistificar o “trauma” como destino da amamentação;
  • Evitar uso de termos como como seu “mamilo é ruim” e substituir por “seu mamilo é só um mamilo com variação anatômica, alguns podem trazer mais desafios, mas isso dependerá dos outros 50%: o bebê. E faremos isso juntas até que se sintam confortáveis”;
  • Evitar o uso de frases imperativas, como “você precisa fazer isso”. Em vez disso, prefira sugestões acolhedoras, como: “sugiro que a gente tente desta forma e você me conta se observa melhora e como se sente”.

Essa abordagem respeitosa ajuda a prevenir o medo e fortalece a confiança da mulher.

Missão em auxiliar mulheres

Quando abordar o tema na gestação?

De modo geral, a partir da 20ª semana de gestação já é possível abordar o tema de forma leve e educativa. A partir da 28ª semana, o assunto pode ser aprofundado com mais detalhes.

No entanto, é importante considerar o momento emocional da gestante. Mulheres com histórico de perda gestacional, gestações com diagnósticos complexos, que sofrem ou sofreram assédio sexual, merecem atenção ainda maior na conduta, para que se sintam confortáveis ao toque do bebê ao chegar, pois estas, podem ter mais dificuldade na vinculação. É papel do especialista mediar essa conversa, traçar estratégias e estar atento para encaminhamentos que deem suporte mais amplo, terapêutico, a esta mulher. Nesse caso, o papel do aconselhamento em amamentação torna-se ainda mais relevante.

Conclusão: preparar a mama é preparar a mulher

O verdadeiro preparo da mama não está no toque, mas na escuta. Ao respeitar o tempo da mulher, orientar com base em ciência e oferecer acolhimento, a consultora contribui não apenas para o sucesso da amamentação, mas para a construção de uma experiência materna mais segura, leve e empoderada.

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