O início da amamentação é um momento determinante para o sucesso da lactação. As primeiras 48 a 72 horas após o nascimento são marcadas por intensas mudanças fisiológicas, emocionais e práticas para a díade mãe-bebê. Nesse cenário, o papel da consultora de amamentação se mostra fundamental. Com base na aula da especialista Marcela Moysés, reunimos neste artigo estratégias práticas, técnicas e humanas que podem transformar o início da amamentação em uma experiência positiva e segura.
Por que o início da amamentação é tão desafiador?
Durante os primeiros dias de vida do bebê, o corpo materno passa pela chamada apojadura — um processo de transição entre a lactogênese I e II. Esse momento envolve aumento do fluxo sanguíneo nas mamas, edema, sensibilidade e um acúmulo inicial de leite. Portanto, o manejo inadequado da apojadura e o ingurgitamento mamário pode dificultar a pega do bebê.
Além disso, a mãe lida com o cansaço do parto, o início do puerpério, a adaptação emocional e a expectativa em relação à amamentação. Por esse motivo, mais do que técnica, ela precisa de acolhimento, escuta ativa e orientações claras. Assim, ela se sente segura para lidar com os desafios dessa fase.
Primeiro passo: observação clínica da mãe e do bebê
Antes de qualquer intervenção, a consultora deve observar o estado comportamental da díade. Compreender o nível de alerta do bebê, sinais precoces de fome, reflexo de busca e estado emocional da mãe são elementos fundamentais para uma abordagem assertiva.
Estados comportamentais do bebê incluem:
- Sono profundo
- Sono leve
- Sonolência
- Alerta silencioso
- Alerta ativo
- Choro
O ideal é iniciar a amamentação quando o bebê estiver em estado de alerta silencioso. Dessa forma, a chance de uma pega mais tranquila e eficaz aumenta consideravelmente. Além disso, a consultora pode aproveitar esse momento para reforçar orientações práticas e criar vínculo com a mãe.
Apojadura e ingurgitamento: como manejar de forma preventiva
A apojadura e o ingurgitamento mamário são fisiológicos. Portanto, pode evoluir para um ingurgitamento patológico e, por isso, o manejo precoce faz toda diferença. Entre as estratégias recomendadas por Marcela estão:
- Ordenha de alívio: alivia o edema, facilita a pega e melhora a extração de leite
- Pressão reversa suavizante: ajuda a amolecer a aréola e facilita a pega do bebê
- Massagem mamária: estimula a drenagem linfática e reduz a sensação de dor
- Evitar intervalos longos entre mamadas: estimula a produção e previne acúmulo
Além disso, é importante que essas técnicas sejam ensinadas de forma clara, demonstradas com empatia e aplicadas respeitando os limites da mulher. Dessa maneira, a consultora promove autonomia e segurança para a mãe.
Pega e posicionamento: a chave para o sucesso
Grande parte das dificuldades no início da amamentação está relacionada a uma pega inadequada. Para evitá-la, é fundamental orientar sobre:
- Posicionamento adequado da mãe e do bebê
- Direção correta do mamilo na entrada da boca do bebê
- Evitar forçar o bebê sobre o mamilo
- Incentivar o bebê a abrir bem a boca (reflexo de busca)
Adicionalmente, a consultora deve ensinar a diferença entre sucção nutritiva e não-nutritiva, bem como orientar a mãe a reconhecer os sinais de transferência eficaz de leite. Dessa forma, ela adquire mais confiança para lidar com os ajustes das mamadas.
Quando o bebê não pega: o que fazer?
Alguns bebês demonstram dificuldades de iniciar a sucção. Nestes casos, é importante considerar medidas que favoreçam a conexão e o estímulo, como:
- Ambiente tranquilo e com baixa luminosidade
- Contato pele a pele frequente
- Evitar o uso de bicos artificiais
- Expressão manual de colostro e oferecimento com copinho
- Incentivo contínuo à amamentação, sem imposição
Além disso, respeitar o tempo do bebê e da mãe, oferecendo suporte técnico e emocional sem pressão, é uma estratégia que reduz frustrações e fortalece o vínculo. Portanto, o respeito e a escuta devem conduzir a abordagem da consultora.
Suplementação: quando considerar?
A suplementação pode ser necessária, mas deve ser indicada com critérios clínicos claros. Por exemplo, a perda de peso superior a 10% pode justificar essa conduta.
No entanto, o uso de fórmulas deve ser avaliado com cautela. Isso porque tais práticas podem interferir na microbiota intestinal do bebê e na confiança da mãe. Sempre que possível, priorize a suplementação com o próprio leite materno, extraído manualmente ou com bomba. Dessa forma, preserva-se a continuidade da amamentação e confiança da mãe durante o estabelecimento desse processo.
Monitoramento e avaliação completa da mamada
Durante as mamadas, a consultora deve observar com atenção:
- Posição e pega
- Transferência de leite (presença de deglutição e sucção nutritiva)
- Sinais de saciedade do bebê (relaxamento corporal, soltura espontânea da mama)
- Formato do mamilo após a mamada (distorção pode indicar pega superficial)
Outro ponto fundamental consiste na observação dos padrões de eliminação: urina clara e evacuações frequentes são indícios de ingestão adequada de leite. Consequentemente, essas informações ajudam na tomada de decisões e no reforço das boas práticas.
Plano de cuidados e seguimento
Após o atendimento inicial, elaborar um plano de cuidados personalizado é essencial. Esse plano deve contemplar:
- Orientações práticas e fáceis de consultar
- Reforço das condutas prioritárias
- Canal aberto de comunicação para dúvidas
- Agendamento de retorno para reavaliação
Além disso, documentar o atendimento, preferencialmente com anotações clínicas estruturadas, reforça a responsabilidade profissional e permite continuidade de cuidado qualificado. Portanto, esse registro deve ser considerado parte indispensável da atuação da consultora.
Considerações finais: acolher é tão importante quanto ensinar
No início da amamentação, técnica e acolhimento caminham juntos. A consultora precisa manejar o corpo e as emoções da díade com a mesma sensibilidade. Por esse motivo, cada orientação deve ser feita com empatia, respeito e ciência.
Portanto, lembrar que cada mulher vive esse processo de forma única é o primeiro passo para construir um vínculo terapêutico duradouro. Quando bem conduzida, a amamentação se torna uma experiência transformadora para toda a família. Além disso, é uma oportunidade de criar memórias afetivas, segurança emocional e confiança para a maternidade.
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